INDIGNAÇÃO
Evelise Tellini Vontobel*
Sou arquiteta urbanista por formação, e tenho sempre o pensamento na
cidade e em como pode melhorar. Voltei recentemente de Milão, onde passei uma
semana usufruindo das benesses de uma cidade do primeiro mundo, onde se circula
a pé até altas horas da noite sem riscos - um direito básico do cidadão que
gera muito bem-estar às pessoas.
Quando voltei fiquei sabendo minha filha foi assaltada dentro de uma
loja aqui em Porto Alegre, um amigo teve o carro roubado, uma pessoa da minha
família presenciou um assalto à mão armada, uma amiga de minha filha foi
assaltada e poucos dias depois eu soube de um assalto a uma farmárcia na rua
Padre Chagas, uma das mais movimentadas da cidade.
Isso é um absurdo.
Dizem que acontece porque não temos policiais. Mas o que falta é
planejamento, gestão e controle. Onde estão os PMs que já temos?
Sentados em gabinetes ou escondidos descansando porque fizeram um 'bico
' na noite passada para compensar o salário ridículo que recebem?
Então é só o governo contratar outros tantos. Mas para quê isso? Só para
fingir que alguma coisa está sendo feita?
Novos policiais e novos carros. Nos primeiros dias todos saem pra rua ‘brincando
de carrinho’, enquanto os carros mais velhos são abandonados e
‘depenados’.
Por que não existe manutenção dos antigos? País pobre tem que manter e
não jogar fora comprar novo.
Até porque, depois de um tempo vai faltar dinheiro para o gasolina...
Este ciclo vicioso é nosso velho conhecido e não é a solução do
problema. O que precisamos é seriedade, competência e comprometimento.
Hoje vivemos com incontáveis dúvidas. Qual é o projeto que temos para o problema
da segurança? A população precisa saber disso. Quais são as causas dessa insegurança que tomou conta da nossa
cidade? As comunidades já foram ouvidas? E
qual o papel dessas comunidades para ajudar a implementar e manter estas ações?
Por que hoje muitas pessoas não vão às delegacias fazer os boletins de
ocorrência? Porque sabem que de nada
adianta sair atrás dos marginais e que se eles eventualmente forem presos, não há
cadeia para todos. E ainda temos uma legislação benevolente, que solta os
bandidos em pouco tempo.
O que saiu do destaque das manchetes e virou conversa de bar é um
problema muito sério. E se não temos dinheiro para solucionar, podemos começar
a buscar alternativas simples e eficientes com criatividade e inteligência.
Certamente existe um mapeamento das regiões com mais ocorrências. Será
que não se pode começar por aí? Será que
não podemos ter pontos fixos de vigilância na cidade, que seriam do
conhecimento da população e as comunidades (associações comunitárias e
voluntários) ajudariam no controle da manutenção destes pontos sempre com
policiamento?
E a ronda à pé nos bairros? Na minha infância – quando ainda se podia brincar
na calçada - os PMs que circulavam no bairro eram nossos
conhecidos.
Temos de começar de algum modo. Sabemos que o problema da segurança pública
é muito complexo e exige ações multidisciplinares, mas não podemos deixar esse
problema evoluir de forma geométrica.
Algumas ações efetivas precisam ser tomadas, e isso deve ser feito já!
* arquiteta e urbanista
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